O CASO DOS MATERIAIS DE ISOLAMENTO

É dentro dos edifícios que passamos 90% do nosso tempo de vida. É, sem dúvida, necessário que estes se tornem eficientes do ponto de vista de consumo energético. O isolamento é fundamental para controlarmos a climatização dos nossos edifícios, mas ao mesmo tempo são necessárias medidas mais sustentáveis na escolha dos materiais de isolamento.

A maioria dos materiais de isolamento utilizados na construção civil em Portugal é proveniente de combustíveis fósseis, como os plásticos, que são materiais fáceis de encontrar para variados fins e a um custo muito acessível. O que nos esquecemos de contabilizar é o seu custo ambiental. Na verdade, o impacte negativo sobre o ambiente, destes derivados, a longo prazo, é enorme. Além de que, normalmente, não podem ser reciclados, uma vez que são difíceis de eliminar e nem se degradam nem decompõem. E quando a reciclagem é possível, perdem a sua qualidade e continuam a cair de qualidade até deixarem de poder ser reciclados. A solução, passa, portanto, por deixar de os produzir.

Para deixar de os produzir, devemos deixar de os utilizar em tantas áreas das nossas vidas, como a do setor da construção (uma vez que aqui são utilizados em grande escala), e sempre que haja alternativa. Na construção, além deste material ser utilizado em isolamentos, como o EPS, XPS e PU, também é comummente utilizado em caixilharias.

Uma vez resíduos, estes produtos ocupam uma já considerável fatia de todo o lixo produzido. A ameaça maior é quando este tipo de lixo chega ao mar. Há dois problemas causados para os animais marinhos, um químico e o outro mecânico (McCauley, D.). O mecânico tem a ver com o próprio material encontrado no intestino dos animais, que é muitas vezes letal. Já o aspeto químico tem a ver com as suas propriedades absorventes, agem como uma esponja, capturando todos os compostos que mais contaminam o oceano, decompondo-se, soltam micropartículas que são então engolidas pelos animais. Sendo estes animais ingeridos pelo ser humano, está então a saúde humana em risco.

Acontece que os fabricantes destes materiais, insistem que é possível a sua reciclagem e, portanto, não são descartados. Ora se é verdade que a reciclagem é possível (em downcycling), já não é verdade que ele não é descartado. E a razão é simples: não há mercado que absorva as quantidades de resíduos produzidos por estes plásticos, incluindo os RCD (resíduos de construção e demolição). Ninguém conseguiu até hoje, provar que seja possível reciclá-los em grande escala pois, devido ao processo químico usado no fabrico, é quase impossível transformá-los no mesmo material que deu origem ao resíduo. Alem de perderem as suas características em cada processo de reciclagem, baixando de qualidade (downcycling). Pelo que, usar a reciclagem, como argumento de sustentabilidade, é um engodo.

Há situações no setor da construção, em que não há alternativas viáveis e este será, por isso, o material mais indicado. Mas esta utilização deve ser reduzida ao mínimo. Havendo alternativas viáveis, com bons desempenhos térmicos e acústicos, a sua opção é uma necessidade se queremos contribuir para um planeta mais sustentável. As soluções alternativas, serão a resolução deste problema. Há que optar por elas, sempre que possível.

No caso de isolamento de edifícios temos disponível a cortiça, as lãs minerais e outras opções provenientes de matéria-prima natural, pois é urgente abandonarmos os derivados de petróleo, sempre que as alternativas reduzam o impacte ambiental do setor da construção.

Setembro 2022

Aline Guerreiro, PCS

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